ENTREVISTA FPO - EDUARDO GALIZA MOREIRA TREINADOR DE FUTEBOL - Futebol Português Online

27 fevereiro 2018

ENTREVISTA FPO - EDUARDO GALIZA MOREIRA TREINADOR DE FUTEBOL


No futebol actual é, cada vez mais importante haver equipas técnicas multidisciplinares, para trabalhar um jogo, que tem ao seu redor um conjunto de ciências.
Eduardo Galiza Moreira, treinador de futebol de 32 anos é, formador de cursos de treinadores, conhecedor de várias realidades futebolísticas, futebol de formação, futebol distrital e profissional, e seleccionador Sub 13 da AF Porto.
O seu percurso é marcado pelo trabalho a coadjuvar nomes bem conhecidos a nível nacional. Vítor Oliveira, João Eusébio, Henrique Nunes, Rui Bento, Pedro Reis e mais recentemente Carlos Secretário. 
Como treinador principal orientou o FC Avintes no escalão sénior do distrital portuense e, na formação Boavista FC, SC Salgueiros e CD Candal.
É também analista da área comportamental dos atletas, fazendo o acompanhamento devido dos seus comportamentos.
Esta semana, o Futebol Português Online recebe um jovem técnico com vontade de vencer mas, acima de tudo com vontade de trabalhar com paixão.
Bem-vindo Eduardo Galiza Moreira.
Obrigado pela sua participação na entrevista FPO.



Futebol Português Online - Como é que surge o treino na sua vida? Qual o motivo principal que o leva a tornar-se treinador de futebol?

Eduardo Galiza Moreira – Antes de mais, gostaria de agradecer o convite, para falar um pouco de mim, mas acima de tudo do futebol.
A oportunidade de treinar, surgiu, devido ao fato de ter terminado a minha curta carreira como jogador, bastante cedo, na formação ainda do Vilanovense. Confesso que não tinha muita habilidade, mas ainda assim joguei até aos juvenis (Sub-17). Nessa altura decidi deixar de jogar e continuar a estudar, mas o futebol nunca saiu de mim. Surgiu a oportunidade, com 17 anos de integrar a equipa técnica dos sub17 do Boavista. Muito novo entrei para aquela “grande” casa. Inicialmente, ainda envergonhado e a tentar perceber como tudo funcionava. O treinador era o Neca Matos, com quem fui aprendendo a conquistar a confiança e o respeito de todos, mas também rapidamente percebi que tinha encontrado aquilo que viria a ser a minha vida profissional, até aos dias de hoje. Depressa fiquei fascinado com a qualidade dos jogadores, com o trabalho de planeamento do treino, com o controlo do treino, a mentalidade e comportamentos. Lembro-me, que na altura, treinava-mos nas instalações do Pasteleira. Eu ia sempre muito cedo e sentava-me na sede, onde estavam os outros treinadores a falar uns com os outros e eu ficava ali sentado no canto, só a ouvir. Sempre gostei mais de ouvir do que falar.

FPO – Enquanto treinador já desempenhou várias funções. Há um momento na carreira para o desempenho de cada uma, porque a ambição é atingir um nível superior?

EGM – Sim. Eu sempre tive uma grande vontade de aprender e tentar ser competente em várias funções. Inicialmente e enquanto estive no futebol de formação, fui aprendendo as várias funções que existiam no futebol. A minha formação académica é Mestrado em Educação Física e Desporto na vertente do Futebol. Felizmente enquanto estava a estudar fui acompanhando com o treino. Fui fazendo várias formações específicas- Scouting, Técnica Individual, por exemplo. Através da faculdade tive equivalência ao 1º Nível de treinador e depois fui fazer o 2º nível. Penso, que não existe um momento concreto para desempenhar uma função específica, por isso entendo que devemos investir na nossa formação, traçar objetivos e pautar o nosso caminho com integridade, princípios e valores. Já desempenhei as funções de treinador principal e adjunto e preparador físico, na formação. Já desempenhei as funções de treinador principal, treinador adjunto, preparador físico, observador em séniores, profissional e distrital. Tenho ambição de ser Treinador Principal, a médio, longo prazo. Hoje sinto-me bem como treinador adjunto.

FPO – Iniciou as lides de treinador muito jovem nos escalões de formação do Boavista FC. Chegou a treinar algum atleta com idade mais ou menos equiparada à sua? Fale-nos dessa experiência.

EGM – Sim, no Boavista FC, os planteis de Juvenis (Su-17) e Juniores (Sub-19), teriam 2/3 anos menos que eu. Mas sinceramente nunca foi um problema, antes pelo contrário sempre foi uma mais-valia. Eu sempre tive uma mentalidade e maturidade acima da idade que tinha e como tal, todos os nossos comportamentos e discurso, estão alinhados pela nossa personalidade e não pela idade. Tinha a vantagem de provavelmente os entender melhor e antecipar, alguns dos seus comportamentos e atitudes. Foi uma grande escola para mim, onde tive a oportunidade de trabalhar com excelentes jogadores, que ainda hoje jogam ao mais alto nível, e treinadores com os quais aprendi o respeito e a exigência da nossa classe.

FPO – Alguma vez sentiu dificuldade no desenvolvimento do seu trabalho pelo facto de não ter passado desportivo enquanto jogador?

EGM – Sabes que o futebol é um mundo fantástico e é a minha vida, mas também é um meio de “rótulos” e preconceitos. Isso, na minha opinião, é mais uma desculpa do que um problema. Eu entendo que o treinador de futebol, não deve saber só de futebol. Deve investir na sua formação enquanto ser humano, ainda para mais na sociedade em que vivemos hoje. O facto de ter sido jogador de futebol, não significa que seja um grande treinador. Assim, como ter muito conhecimento teórico, sem prática, também não leva a nada. A experiência é fundamental.

FPO – Na sua opinião o que é ser treinador de futebol? Quais são os “condimentos” que fazem do ser humano, individuo, homem/mulher um bom treinador/a ou um treinador/a de excelência?

EGM – Esse é o segredo! (Risos). Para mim, o treinador tem de ser alguém com muita sede de conhecimento. Não precisa de saber muito de muita coisa, mas tem de ter uma noção transversal do futebol e da sociedade. O treinador é um homem/mulher, assim como os jogadores, dirigentes, árbitros, etc… Penso que essencialmente o treinador terá que perceber o jogo, o treino e a comunicação. Existem tantas ciências associadas ao futebol, que no meu entender, o treinador tem de saber filtrar a informação. Deve ser, ambicioso, confiante e integro. Depois existe um fator fundamental, para o sucesso, ou não, do treinador. Cada ser humano, existe num determinado contexto, como tal o treinador tem de perceber o contexto onde está inserido, pois todo o seu comportamento terá de ir ao encontro desse mesmo contexto. O contexto, pode ser criado por nós ou já existe, e como tal o treinador tem de ter a capacidade de perceber, adaptar e tirar o maior proveito desse contexto. Ser treinador de formação, não é o mesmo de ser treinador de séniores. Treinar profissionais, não é igual a treinar amadores, feminino e masculino, a capacidade que o treinador tem para fazer o plantel de acordo com o seu modelo de jogo, ou não, etc…

FPO – É formador nos cursos de treinador e sabemos que é um grande defensor da sua classe. Há falta de tempo da parte de quem gere o futebol para que o treinador desenvolva o seu trabalho, ou isso só acontece porque o resultado é o principal factor e tem de ser imediato? 

EGM – O futebol acompanha a sociedade em que vivemos. Hoje todos querem resultados rápido e todos procuram as respostas, ainda antes de fazerem as perguntas. O futebol, não foge à regra. Obviamente que o futebol profissional são resultados, no entanto existem valores e princípios que não podem ser ultrapassados. Todos temos que definir objetivos, pessoais e coletivos. Mas também temos de perceber que ao definir objetivos, temos um caminho para os atingir, o processo. Existe quem opte por um caminho mais rápido, outros por um caminho mais consistente. Existe, hoje em dia, uma sede pelo protagonismo e pelo poder, nos mais variados setores de atividade. Esta classe é, seguramente, aquela que mais e melhor dá ao nosso país. O respeito pelo treinador e de treinador para treinador tem de existir, para que não se viva eternamente dos feitos alcançados, mas sim se trabalhe para conquistar novos feitos e desafios. O futebol é integrador e das modalidades mais ricas tanto em termos motores, como sociais. Acredito num futuro melhor e trabalho para um futuro melhor.

FPO - A formação para formandos e formadores é um momento de partilha. Ajudar a formar um treinador está mais ou menos ao nível de ajudar a formar um jogador? Em ambas as situações, as motivações são diferentes?

EGM – Existem algumas semelhanças, no entanto cada contexto é um contexto. Formar um jogador, implica paciência, no sentido em que se está a formar o homem em simultâneo com as suas competências ténico-táticas para o jogo. Na formação de treinadores também se transmitem ensinamentos técnico-táticos, mas já existem aspetos de personalidade definidos e perfis adquiridos. Devo dizer que, é uma área que me fascina imenso e da qual tenho o privilégio de pertencer. A formação de treinadores é uma oportunidade de aprender e conhecer o ser humano antes do treinador e isso, para mim é um privilégio. O formador, assim como o treinador não são “vendedores de sonhos”, mas sim, a “ferramenta” para que os formandos e jovens jogadores, tenham uma aprendizagem integral de tudo que envolve o jogo e esta profissão. A motivação de um jogador jovem, pode, repito, pode, querer ser jogador profissional, e a de um formando pode, repito, pode querer ser treinador. O treinador/Formador tem de perceber as motivações de cada um, enquadra-las num colectivo/contexto e exponenciar ao máximo tudo o que houver para exponenciar.

FPO - Talvez por mover tantas paixões o futebol seja um meio tão intenso e 
muito disputado entre todos os intervenientes?

EGM – A profissão de treinador, é uma profissão de desgaste rápido. A quantidade de variáveis a que o treinador tem de estar atento é imensa. Por isso, na minha opinião, ser importante o treinador possuir uma equipa técnica forte. O treinador em diversos momentos necessita de estar “protegido” para avaliar melhor as suas opções e tomar as melhores decisões. Quem quer ser treinador, tem de estar preparado para a intensidade e competitividade no dia-a-dia. Quem está no futebol sabe, que isso faz parte. Muitas vezes com tanta pressão, intensidade e competitividade, existem quebras nos comportamentos e alguma dificuldade em possuir o equilíbrio necessário para manter uma postura correta e com princípios. Esse é o desafio. Daí a necessidade, muitas vezes, da área comportamental. Estudar o homem/mulher, para que possamos tomar as melhores decisões.

FPO - Tem colaborado com alguns nomes conhecidos do futebol português, tanto com treinadores como com jogadores. Esta é a grande escola ou todos os contextos são enriquecedores?

EGM – Todos os contextos são enriquecedores. Sim é verdade que já tive a oportunidade de trabalhar com alguns nomes e pessoas com larga experiência e, obviamente aprendi imenso. Mas não só com quem é mais conhecido, também com aqueles com quem trabalhei noutros clubes, me trouxeram grandes aprendizagens e referências. Obviamente que o futebol é para quem ganha, mas muitas vezes o conhecimento e a aprendizagem está naqueles locais que poucos conhecem. Eu tenho um orgulho enorme de ter passado por todos os clubes que passei e por ter trabalhado com quem trabalhei. Cada um, à sua maneira me deixou algo, que jamais, esquecerei. Guardo grandes recordações dos locais por onde passei e deixei sempre boas amizades. Desde a formação do Boavista FC, com jogadores fantásticos e treinadores como, o Neca Matos, Queiró, Manuel Pedro, Mário Moinhos, Mário João. No Salgueiros, com o Pedro Reis. No F.C. Arouca com o Mister Henrique Nunes e o Mister Vítor Oliveira. No F.C.Avintes, no Nogueirense, no União de Lamas, no Valadares Gaia, no Fiães Feminino, no Varzim com o Mister João Eusébio e por último no F.C. Cesarense.

FPO – Sem dúvida que o lado emocional é o mais importante em qualquer ser humano. Que tipo de trabalho é feito para preparar o atleta para os desafios do dia-a-dia na sua profissão?

EGM – A área comportamental é outra das minhas grandes paixões, não só no futebol. Tive a oportunidade de estar presente em algumas formações de Coaching, PNL, Liderança, Motivação, Deteção da mentira, etc…
Em primeiro lugar, na minha opinião, não existe um padrão. Cada homem/jogador é um ser individual, com defeitos, virtudes, receios e ambições. Através de uma análise atenta e alguma interação, por vezes, até descontextualizada, é possível elaborar um perfil, para uma intervenção mais concreta e efetiva. Nós vivemos num mundo em que todos falam, mas poucos comunicam e se o treinador tiver a capacidade de dizer aos jogadores o que eles querem ouvir da forma como o treinador quer dizer, então estaremos mais preparados para o sucesso. Temos de perceber o que faz o jogador/homem “andar”. Em momentos difíceis, temos de perceber se o jogador/homem, precisa de apoio ou de uma postura mais firme. Assim como quando um treinador chega a um clube terá que rapidamente fazer uma análise a todas as oportunidades e ameaças existentes e que novas valências pode trazer para o alavancar para o sucesso. Por último, o treinador/homem. Também tem de autoavaliar o seu comportamento os seus receios, virtudes, ameaças e ambições para o sucesso.

FPO - Já trabalhou em diferentes contextos e, recentemente terminou mais uma etapa na sua carreira. Num futuro próximo qual é o projeto? De momento quais são as suas motivações, visto que o futebol é a sua grande paixão?

EMG – Sim, felizmente já tive a oportunidade de trabalhar em quase todos os contextos, desde futebol de formação distrital e nacional, futebol sénior distrital em diferentes associações (Porto e Aveiro), futebol feminino, Campeonato Portugal e futebol profissional (2ª Liga).
Tenho ambição de chegar à 1ª Liga. Tenho como objetivo integrar uma estrutura técnica profissional, no futebol profissional. O caminho faz-se caminhando e como tal tenho noção dos desafios. Mas também tenho noção do meu valor e das minhas competências. Vivo do futebol, para o futebol. Mantendo sempre uma postura séria, humilde, convicta e ambiciosa. Como já referi, a médio, longo prazo serei treinador principal profissional, mas neste momento sinto-me motivado para ser treinador adjunto a nível profissional e manter-me como formador nos cursos de treinadores.

Ao Primeiro Toque – Para terminar a entrevista, o entrevistado pode qualificar ou descrever com uma ou mais palavras as palavras soltas descritas abaixo.


SC Salgueiros - Evolução e Alma

Boavista FC - O inico de tudo, casa “mãe”.

FC Avintes - Desafio

FC Arouca - Aprendizagem

Varzim SC - Concretização

Futebol de Formação - Paciência e Perfil Próprio

Futebol Profissional - Futebol Profissional

Ciência/estudo vs talento futebolístico – Ciência/Estudo + talento futebolístico

Eduardo Galiza Moreira - Ambição e Foco

Entrevista FPO - Respeito



Rui Cardoso

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