No futebol actual é, cada vez
mais importante haver equipas técnicas multidisciplinares, para trabalhar um
jogo, que tem ao seu redor um conjunto de ciências.
Eduardo Galiza Moreira,
treinador de futebol de 32 anos é, formador de cursos de treinadores, conhecedor
de várias realidades futebolísticas, futebol de formação, futebol distrital e
profissional, e seleccionador Sub 13 da AF Porto.
O seu percurso é marcado
pelo trabalho a coadjuvar nomes bem conhecidos a nível nacional. Vítor
Oliveira, João Eusébio, Henrique Nunes, Rui Bento, Pedro Reis e mais
recentemente Carlos Secretário.
Como treinador principal
orientou o FC Avintes no escalão sénior do distrital portuense e, na formação
Boavista FC, SC Salgueiros e CD Candal.
É também analista da área
comportamental dos atletas, fazendo o acompanhamento devido dos seus
comportamentos.
Esta semana, o Futebol
Português Online recebe um jovem técnico com vontade de vencer mas, acima de
tudo com vontade de trabalhar com paixão.
Bem-vindo Eduardo Galiza
Moreira.
Obrigado pela sua
participação na entrevista FPO.
Futebol
Português Online - Como é que surge o treino na sua vida? Qual
o motivo principal que o leva a tornar-se treinador de futebol?
Eduardo
Galiza Moreira – Antes de mais, gostaria de agradecer o
convite, para falar um pouco de mim, mas acima de tudo do futebol.
A oportunidade de treinar, surgiu, devido ao fato de ter
terminado a minha curta carreira como jogador, bastante cedo, na formação ainda
do Vilanovense. Confesso que não tinha muita habilidade, mas ainda assim joguei
até aos juvenis (Sub-17). Nessa altura decidi deixar de jogar e continuar a
estudar, mas o futebol nunca saiu de mim. Surgiu a oportunidade, com 17 anos de
integrar a equipa técnica dos sub17 do Boavista. Muito novo entrei para aquela
“grande” casa. Inicialmente, ainda envergonhado e a tentar perceber como tudo
funcionava. O treinador era o Neca Matos, com quem fui aprendendo a conquistar
a confiança e o respeito de todos, mas também rapidamente percebi que tinha
encontrado aquilo que viria a ser a minha vida profissional, até aos dias de
hoje. Depressa fiquei fascinado com a qualidade dos jogadores, com o trabalho
de planeamento do treino, com o controlo do treino, a mentalidade e comportamentos.
Lembro-me, que na altura, treinava-mos nas instalações do Pasteleira. Eu ia
sempre muito cedo e sentava-me na sede, onde estavam os outros treinadores a
falar uns com os outros e eu ficava ali sentado no canto, só a ouvir. Sempre
gostei mais de ouvir do que falar.
FPO
– Enquanto
treinador já desempenhou várias funções. Há um momento na carreira para o
desempenho de cada uma, porque a ambição é atingir um nível superior?
EGM
– Sim.
Eu sempre tive uma grande vontade de aprender e tentar ser competente em várias
funções. Inicialmente e enquanto estive no futebol de formação, fui aprendendo
as várias funções que existiam no futebol. A minha formação académica é
Mestrado em Educação Física e Desporto na vertente do Futebol. Felizmente
enquanto estava a estudar fui acompanhando com o treino. Fui fazendo várias
formações específicas- Scouting, Técnica Individual, por exemplo. Através da
faculdade tive equivalência ao 1º Nível de treinador e depois fui fazer o 2º
nível. Penso, que não existe um momento concreto para desempenhar uma função
específica, por isso entendo que devemos investir na nossa formação, traçar
objetivos e pautar o nosso caminho com integridade, princípios e valores. Já
desempenhei as funções de treinador principal e adjunto e preparador físico, na
formação. Já desempenhei as funções de treinador principal, treinador adjunto,
preparador físico, observador em séniores, profissional e distrital. Tenho
ambição de ser Treinador Principal, a médio, longo prazo. Hoje sinto-me bem
como treinador adjunto.
FPO
– Iniciou
as lides de treinador muito jovem nos escalões de formação do Boavista FC.
Chegou a treinar algum atleta com idade mais ou menos equiparada à sua?
Fale-nos dessa experiência.
EGM
– Sim,
no Boavista FC, os planteis de Juvenis (Su-17) e Juniores (Sub-19), teriam 2/3
anos menos que eu. Mas sinceramente nunca foi um problema, antes pelo contrário
sempre foi uma mais-valia. Eu sempre tive uma mentalidade e maturidade acima da
idade que tinha e como tal, todos os nossos comportamentos e discurso, estão
alinhados pela nossa personalidade e não pela idade. Tinha a vantagem de
provavelmente os entender melhor e antecipar, alguns dos seus comportamentos e
atitudes. Foi uma grande escola para mim, onde tive a oportunidade de trabalhar
com excelentes jogadores, que ainda hoje jogam ao mais alto nível, e
treinadores com os quais aprendi o respeito e a exigência da nossa classe.
FPO
– Alguma
vez sentiu dificuldade no desenvolvimento do seu trabalho pelo facto de não ter
passado desportivo enquanto jogador?
EGM
– Sabes
que o futebol é um mundo fantástico e é a minha vida, mas também é um meio de
“rótulos” e preconceitos. Isso, na minha opinião, é mais uma desculpa do que um
problema. Eu entendo que o treinador de futebol, não deve saber só de futebol.
Deve investir na sua formação enquanto ser humano, ainda para mais na sociedade
em que vivemos hoje. O facto de ter sido jogador de futebol, não significa que
seja um grande treinador. Assim, como ter muito conhecimento teórico, sem
prática, também não leva a nada. A experiência é fundamental.
FPO
– Na
sua opinião o que é ser treinador de futebol? Quais são os “condimentos” que
fazem do ser humano, individuo, homem/mulher um bom treinador/a ou um treinador/a
de excelência?
EGM
– Esse
é o segredo! (Risos). Para mim, o treinador tem de ser alguém com muita sede de
conhecimento. Não precisa de saber muito de muita coisa, mas tem de ter uma
noção transversal do futebol e da sociedade. O treinador é um homem/mulher,
assim como os jogadores, dirigentes, árbitros, etc… Penso que essencialmente o
treinador terá que perceber o jogo, o treino e a comunicação. Existem tantas
ciências associadas ao futebol, que no meu entender, o treinador tem de saber
filtrar a informação. Deve ser, ambicioso, confiante e integro. Depois existe
um fator fundamental, para o sucesso, ou não, do treinador. Cada ser humano,
existe num determinado contexto, como tal o treinador tem de perceber o
contexto onde está inserido, pois todo o seu comportamento terá de ir ao
encontro desse mesmo contexto. O contexto, pode ser criado por nós ou já
existe, e como tal o treinador tem de ter a capacidade de perceber, adaptar e
tirar o maior proveito desse contexto. Ser treinador de formação, não é o mesmo
de ser treinador de séniores. Treinar profissionais, não é igual a treinar
amadores, feminino e masculino, a capacidade que o treinador tem para fazer o
plantel de acordo com o seu modelo de jogo, ou não, etc…
FPO
–
É formador nos cursos de treinador e sabemos que é um grande defensor da sua classe.
Há falta de tempo da parte de quem gere o futebol para que
o treinador desenvolva o seu trabalho, ou isso só acontece porque o resultado é o principal factor e tem de ser imediato?
EGM
– O
futebol acompanha a sociedade em que vivemos. Hoje todos querem resultados
rápido e todos procuram as respostas, ainda antes de fazerem as perguntas. O
futebol, não foge à regra. Obviamente que o futebol profissional são resultados,
no entanto existem valores e princípios que não podem ser ultrapassados. Todos
temos que definir objetivos, pessoais e coletivos. Mas também temos de perceber
que ao definir objetivos, temos um caminho para os atingir, o processo. Existe
quem opte por um caminho mais rápido, outros por um caminho mais consistente.
Existe, hoje em dia, uma sede pelo protagonismo e pelo poder, nos mais variados
setores de atividade. Esta classe é, seguramente, aquela que mais e melhor dá
ao nosso país. O respeito pelo treinador e de treinador para treinador tem de
existir, para que não se viva eternamente dos feitos alcançados, mas sim se
trabalhe para conquistar novos feitos e desafios. O futebol é integrador e das
modalidades mais ricas tanto em termos motores, como sociais. Acredito num
futuro melhor e trabalho para um futuro melhor.
FPO - A formação para formandos e formadores é um momento de partilha. Ajudar a formar um
treinador está mais ou menos ao nível de ajudar a formar um jogador? Em ambas
as situações, as motivações são diferentes?
EGM
–
Existem algumas semelhanças, no entanto cada contexto é um contexto. Formar um
jogador, implica paciência, no sentido em que se está a formar o homem em
simultâneo com as suas competências ténico-táticas para o jogo. Na formação de
treinadores também se transmitem ensinamentos técnico-táticos, mas já existem
aspetos de personalidade definidos e perfis adquiridos. Devo dizer que, é uma
área que me fascina imenso e da qual tenho o privilégio de pertencer. A
formação de treinadores é uma oportunidade de aprender e conhecer o ser humano
antes do treinador e isso, para mim é um privilégio. O formador, assim como o
treinador não são “vendedores de sonhos”, mas sim, a “ferramenta” para que os
formandos e jovens jogadores, tenham uma aprendizagem integral de tudo que
envolve o jogo e esta profissão. A motivação de um jogador jovem, pode, repito,
pode, querer ser jogador profissional, e a de um formando pode, repito, pode querer
ser treinador. O treinador/Formador tem de perceber as motivações de cada um,
enquadra-las num colectivo/contexto e exponenciar ao máximo tudo o que houver
para exponenciar.
FPO - Talvez
por mover tantas paixões o futebol
seja um meio tão intenso e
muito disputado entre todos os intervenientes?
EGM –
A
profissão de treinador, é uma profissão de desgaste rápido. A quantidade de
variáveis a que o treinador tem de estar atento é imensa. Por isso, na minha
opinião, ser importante o treinador possuir uma equipa técnica forte. O
treinador em diversos momentos necessita de estar “protegido” para avaliar
melhor as suas opções e tomar as melhores decisões. Quem quer ser treinador,
tem de estar preparado para a intensidade e competitividade no dia-a-dia. Quem
está no futebol sabe, que isso faz parte. Muitas vezes com tanta pressão,
intensidade e competitividade, existem quebras nos comportamentos e alguma
dificuldade em possuir o equilíbrio necessário para manter uma postura correta
e com princípios. Esse é o desafio. Daí a necessidade, muitas vezes, da área
comportamental. Estudar o homem/mulher, para que possamos tomar as melhores
decisões.
FPO - Tem colaborado com alguns nomes conhecidos do futebol português, tanto com treinadores como com jogadores. Esta é a grande escola ou todos os contextos são enriquecedores?
EGM
– Todos
os contextos são enriquecedores. Sim é verdade que já tive a oportunidade de
trabalhar com alguns nomes e pessoas com larga experiência e, obviamente
aprendi imenso. Mas não só com quem é mais conhecido, também com aqueles com
quem trabalhei noutros clubes, me trouxeram grandes aprendizagens e
referências. Obviamente que o futebol é para quem ganha, mas muitas vezes o
conhecimento e a aprendizagem está naqueles locais que poucos conhecem. Eu
tenho um orgulho enorme de ter passado por todos os clubes que passei e por ter
trabalhado com quem trabalhei. Cada um, à sua maneira me deixou algo, que
jamais, esquecerei. Guardo grandes recordações dos locais por onde passei e
deixei sempre boas amizades. Desde a formação do Boavista FC, com jogadores
fantásticos e treinadores como, o Neca Matos, Queiró, Manuel Pedro, Mário
Moinhos, Mário João. No Salgueiros, com o Pedro Reis. No F.C. Arouca com o
Mister Henrique Nunes e o Mister Vítor Oliveira. No F.C.Avintes, no
Nogueirense, no União de Lamas, no Valadares Gaia, no Fiães Feminino, no Varzim
com o Mister João Eusébio e por último no F.C. Cesarense.
FPO –
Sem
dúvida que o lado emocional é o mais importante em qualquer ser humano. Que
tipo de trabalho é feito para preparar o atleta para os desafios do dia-a-dia
na sua profissão?
EGM
– A
área comportamental é outra das minhas grandes paixões, não só no futebol. Tive
a oportunidade de estar presente em algumas formações de Coaching, PNL,
Liderança, Motivação, Deteção da mentira, etc…
Em primeiro lugar, na minha opinião, não existe um
padrão. Cada homem/jogador é um ser individual, com defeitos, virtudes, receios
e ambições. Através de uma análise atenta e alguma interação, por vezes, até
descontextualizada, é possível elaborar um perfil, para uma intervenção mais
concreta e efetiva. Nós vivemos num mundo em que todos falam, mas poucos
comunicam e se o treinador tiver a capacidade de dizer aos jogadores o que eles
querem ouvir da forma como o treinador quer dizer, então estaremos mais
preparados para o sucesso. Temos de perceber o que faz o jogador/homem “andar”.
Em momentos difíceis, temos de perceber se o jogador/homem, precisa de apoio ou
de uma postura mais firme. Assim como quando um treinador chega a um clube terá
que rapidamente fazer uma análise a todas as oportunidades e ameaças existentes
e que novas valências pode trazer para o alavancar para o sucesso. Por último,
o treinador/homem. Também tem de autoavaliar o seu comportamento os seus
receios, virtudes, ameaças e ambições para o sucesso.
FPO - Já trabalhou em diferentes contextos e, recentemente terminou mais uma etapa na sua carreira. Num futuro próximo qual é o projeto? De momento quais são as suas motivações, visto que o futebol é a sua grande paixão?
EMG
– Sim,
felizmente já tive a oportunidade de trabalhar em quase todos os contextos,
desde futebol de formação distrital e nacional, futebol sénior distrital em
diferentes associações (Porto e Aveiro), futebol feminino, Campeonato Portugal
e futebol profissional (2ª Liga).
Tenho ambição de chegar à 1ª Liga. Tenho como objetivo
integrar uma estrutura técnica profissional, no futebol profissional. O caminho
faz-se caminhando e como tal tenho noção dos desafios. Mas também tenho noção
do meu valor e das minhas competências. Vivo do futebol, para o futebol.
Mantendo sempre uma postura séria, humilde, convicta e ambiciosa. Como já
referi, a médio, longo prazo serei treinador principal profissional, mas neste
momento sinto-me motivado para ser treinador adjunto a nível profissional e
manter-me como formador nos cursos de treinadores.
Ao
Primeiro Toque – Para terminar a entrevista, o entrevistado
pode qualificar ou descrever com uma ou mais palavras as palavras soltas
descritas abaixo.
SC Salgueiros - Evolução e Alma
Boavista FC - O inico de tudo, casa “mãe”.
FC Avintes - Desafio
FC Arouca - Aprendizagem
Varzim SC - Concretização
Futebol de Formação - Paciência e Perfil Próprio
Futebol Profissional - Futebol Profissional
Ciência/estudo
vs talento futebolístico – Ciência/Estudo + talento futebolístico
Eduardo Galiza Moreira - Ambição e Foco
Entrevista
FPO - Respeito
Rui Cardoso
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