João Ferreira, 37 anos é, mais um jovem treinador, que ao longo da sua carreira tem coleccionado experiências. É natural de Guetim, onde iniciou o seu percurso técnico na associação desportiva local. De Guetim onde foi criado, e depois de ter orientado os Leões Bairristas acompanhou Eurico Gomes até ao Al - Raed da Arabia Saudita, regressando a Portugal e ao SC Espinho. Trabalhou na formação dos tigres da costa verde, que o levou aos distritais da AF Porto. Em Vila Nova de Gaia orientou Leverense, Dragões Sandinenses e Avintes. Trabalhos reconhecidos pela direcção do emblema maior da cidade da baía, do comendador e da raça vareira com as escamas salientes na pele. Em 2020 o mundo foi apanhado de surpresa pela pandemia Covid 19 e, devido ao vírus que tomou conta do planeta 2019/20 não terminou. O SC Espinho estava em 3º lugar da Série B do Campeonato de Portugal 2019/20 e o sonho do acesso ainda era possível apesar da distância pontual, mas a FPF atribuiu a promoção ao primeiro classificado. Iniciou 2020/21 no SC Espinho e saiu ao fim de 12 partidas oficiais.
No Futebol Português Online, temos a honra de receber João Ferreira, a quem agradecemos a disponibilidade.
Futebol
Português Online – Como e quando surge a vontade de seguir a
carreira de treinador de futebol?
João
Ferreira – Quando entro na licenciatura de educação
física e desporto jogava na AD Guetim. Tinha muitas aulas e já chegava aos
treinos, que eram à noite, muito cansado. Isso fez com que fosse perdendo
motivação para jogar. Da mesma forma, ia ganhando vontade de começar a
experimentar coisas que ouvia nas aulas de futebol do 1º ano. Aí surgem os meus
primeiros pensamentos enquanto treinador.
FPO
–
Trabalhou em diversos contextos. Actualmente no desempenho da sua profissão
ainda utiliza algum exercício ou método de treino que utilizo no início de
carreira ou quando se vão subindo degraus é importante procurar outras
metodologias mais apelativas para que os jogadores se dediquem e estejam mais
focados no processo de treino?
JF
– Nós,
somos nós e as nossas circunstâncias. Hoje sei mais do que sabia na altura em
que comecei, daí que também possa fazer mais (no sentido de maior variedade do meu conhecimento) coisas do que
fiz no meu início. O nosso treino e a nossa liderança, tem que ver também com o
nosso “Ser”. Portanto, há muitas coisas que acreditava e em que continuo a
acreditar. Que podemos evoluir o nosso “jogar”, as nossas “ideias de jogo”
jogando! O meu treino sempre teve e continua a ter muitas formas jogadas,
momentos competitivos, porque é nisso que me revejo e é nisso que acredito.
Sinceramente, diálogo, honestidade com aquilo que penso ser o melhor para a
equipa, também são práticas que tinha e continuo a ter enquanto líder. Os detalhes
vão evoluindo.
FPO
–
O distrital é uma escola de experiências tácticas, que tornam o treinador
melhor quando atinge os patamares nacionais?
JF
– Só
na minha última época de distrital, que foi no FC Avintes, é que fiz algumas
experiências de ordem estrutural na equipa. Jogamos em (1)/ 4-3-3, 4-4-2, 3-5-2
e 3-4-3. Mas senti quando cheguei ao Campeonato de Portugal que a exigência aí
era muito maior. Maior diversidade de estruturas adversárias, maior diversidade
de ideias de jogo e, treinadores e jogadores conhecedores do jogo. O que exigiu
maior complexidade nas diferentes formas que tivemos que encontrar para parar os
adversários, mas também para os atacar.
FPO – Quando saiu dos distritais da AF Porto e, foi convidado para assumir o comando da equipa principal do SC Espinho concretizou um sonho?
JF
– Eu
sou treinador de futebol. Concretizei um objectivo que era chegar aos
campeonatos nacionais. Entrar pela porta do SC Espinho só tornou tudo mais
belo! Entrar num clube com tanta história, que já teve tão grandes treinadores,
que tem uma massa adepta tão presente e que ainda por cima é o clube da nossa
cidade é entusiasmante.
FPO
–
Orientar o SC Espinho foi especial para si? Sentia que a falta do público nas
bancadas influenciava o rendimento da equipa?
JF – Claro! Quando temos amigos, alguns de
infância, e familiares que vão ao estádio para ver o clube da terra, que sou eu
que estou a treinar, só pode ser especial. É motivo de orgulho, mas também de
responsabilidade máxima. Se não tenho dúvidas que nos grandes momentos da época
passada, os adeptos tiveram um papel importante, estando presentes, também não
tenho dúvidas, que a sua ausência nos tirou parte da força que o Espinho tinha.
É inequívoco! Um dos factores mais importantes para o rendimento é a
adrenalina. Ela ativa os nossos sistemas de alerta, motivacional, atencional,
etc. Sem a presença de público, dificilmente a adrenalina é a mesma.
FPO
– Conte
aos nossos leitores um pouco da sua experiência na Arabia Saudita e, da
possibilidade que teve em trabalhar com Eurico Gomes, um símbolo do futebol
português.
JF
–
O mister Eurico Gomes é, ainda hoje, o único jogador que foi campeão pelos três
grandes em Portugal. Teria de ser um nome mais respeitado e reconhecido por
todos, do que aquilo que é. Foi uma grande aventura. Pela primeira vez fui
profissional de futebol, num país tão diferente e distante. Foram muitas
vivências que recolhi. Sobretudo a cultura do povo árabe é aquilo que mais
marca e perdura em nós.
FPO
–
Quando termina um projecto qual é o seu pensamento? Faz a chamada análise swot
para tentar perceber o que é que correu bem e menos bem?
JF
– Depois
uma saída, há um momento de “queda”. Há uma grande alteração na nossa rotina
diária. Falta o estímulo competitivo. E há o luto da separação dessa rotina,
mas também das pessoas, da equipa e do que idealizamos para essa éoca. Já fiz
análise, discuti as razões com pessoas que entendi e a avaliação está feita. A
partir desse momento, é fazer tudo para estar preparado para o desafio
seguinte. E estou!
FPO
– Há
projectos ou contextos ideais? Ou o grande desafio é transformar esse contexto
num projecto vencedor?
JF
– Não
há projectos ideais. Muitos clubes têm do ponto de vista físico e estrutural o
ideal. Mas falta-lhes a dimensão humana, o suporte de adeptos ou um plantel
equilibrado e forte. Outros têm estas últimas, mas falta-lhes as primeiras.
Outros têm tudo, mas não conseguem fazer uma boa gestão de expectativas. Para
mim é importante haver uma dimensão humana no grupo de jogadores e nas pessoas
que nos rodeiam, que nos faça, a todos, transcender. Porque para se ser uma
equipa vencedora (sendo ou não favorita
à partida) é preciso a transcendência de todos!
FPO
– Quais
são as suas ambições para um futuro próximo? Como se costuma dizer na gíria do
futebol. O telefone tem tocado?
JF
– Eu
sou, como sempre fui ambicioso. Sei muito bem o que quero e os clubes onde
tenho estado, ficaram melhores depois da minha passagem do que antes. É
inegável! E é nesta bitola que me quero manter. Esteja onde estiver, com
ambição e a conseguir levar as equipas e os clubes ao mais alto. Já provei
competência, já vencemos várias equipas da 2ª Liga, já disputamos de igual para
igual com equipas da 1ª Liga. Estou preparado para tudo! De ex Jogadores,
amigos, antigos directores e colegas treinadores já recebi várias chamadas a
estranharem o facto de ainda não ter novo clube. Aguardo o momento certo.
Para terminar a nossa
entrevista……… Defina em uma ou mais palavras.
Associação
Desportiva de Guetim – A minha casa. Foram eles que me
motivaram a percorrer este caminho.
Campeonatos
Distritais da AF Porto – Comecei no mais baixam degrau
e fui até ao mais alto. Grandes jogos, grandes momentos. Muita gente boa!
O
colega treinador e conterrâneo Vítor Pereira – Estagiei
com o mister Vítor Pereira quando ele treinava o SC Espinho. Tivemos já dois
contactos pessoais este ano 2021, o que me orgulha.
Eurico
Gomes – Campeão. Homem digno! Sempre grato pelo que me
proporcionou.
Pepito.
Massagista do SC Espinho – Alma-mater do SC Espinho. Quem vive
por dentro não o esquece.
SC
Espinho – Quem o vive, quem joga por ele, tem que ser nos
limites. Não há branco sujo, nem cinzento. É preto e branco.
Campeonato
de Portugal e o seu formato competitivo – Espaço competitivo
de largo espectro geográfico. Um verdadeiro campeonato nacional.
Liga
3 – Evolução.
Ante-câmara do profissionalismo. Um bom desenvolvimento.
Futebol
– “Olhos
que não vêm coração que não sente!”. Aqui não se aplica. Quanto mais longe se
está dele, mais falta faz! Uma paixão! Um modo de vida!
João
Ferreira – Como disse Da Vinci, “Tudo o que está no
plano da realidade já foi sonho um dia.” Continuo a gostar de sonhar! Um homem
de família e de verdade!
Entrevista
FPO – Gostei muito deste momento de partilha. Boas perguntas.
Continuem o bom trabalho.
Rui
Cardoso
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