Nascido em Setúbal há 52 anos, só abandonou a cidade do Rio Sado
para se dedicar à sua profissão. Futebolista com características
especiais, como o próprio reconhece, na arte de dar o toque final
para o fundo da baliza. Mas antes de apontar golos era, o médio
ofensivo inspirado no ídolo e conterrâneo Paulo Futre. Homem
humilde, emotivo, apaixonado pela família. Bem disposto e contador
de histórias hilariantes, promotor da boa disposição que os amigos e
colegas gostam de ter por perto. Paulo Catarino é, o nome do
entrevistado desta semana do FPO. Representou 34 clubes, marcou
317 golos até ao momento e, segundo o próprio, a carreira termina
no final de 2024 -25, no 34º emblema que vai levar ao peito, do
Botafogo Futebol Clube de Cabanas, sediado em Palmela, que vai
participar na 1ª Divisão do futebol setubalense. Teve algumas
experiências como treinador adjunto, e o seu dia a dia fora do
desporto rei é, a nível profissional a ajudar pessoas carenciadas. O
homem certo no lugar certo, que ao longo da vida trabalhou muito
para concretizar os seus sonhos e objectivos. Obrigado Paulo Catarino, pela
disponibilidade em participar na nossa entrevista. Para todos nós é
uma grande honra.
Dados do Goleador Catarino
Nome – Paulo António Araújo Silva Catarino
Idade – 52 anos
Posição – Ponta de Lança
Clube Actual – Botafogo Futebol Clube de Cabanas
Número de Golos Apontados – 317
Divisões que disputou – 1ª Liga, 2ª Liga, 2ª Divisão B, III Divisão
Nacional, 1ª Divisão da AF Setúbal, 2ª Divisão da AF Setúbal, Divisão
de Honra da AF Évora, 1ª Divisão AF Lisboa, Campeonato Inatel.
Títulos Conquistados
Campeão da 2ª Divisão Zona Sul 1998 – 99
Clubes Representados -
Os Pelezinhos de Setúbal, GDR 1º Maio, Quintajense, Quimigal,
Comércio e Indústria de Setúbal, União de Santiago, CD Montijo,
Alcanenense, CD Nacional, Imortal DC, Vitória FC, Leça FC, SC
Olhanense, Atlético CP. Olivais e Moscavide, CD Pinhalnovense, CD
Mafra, UD Santana, Amarante FC, União de Montemor, Torreense,
Atlético da Malveira, Mineiro Aljustrelense, Alcochetense, Fabril do
Barreiro, Paio e Pires, Quinta do Conde, Palmelense, Valenças, Águas
de Moura, Brejos de Azeitão, FC Setúbal, Montinhos dos Pegos e
Botafogo Futebol Clube de Cabanas.
Futebol Português Online – O Botafogo Futebol Clube de Cabanas
será mesmo o seu último clube, visto que é público o facto da grande
dificuldade em abandonar o futebol, pela adrenalina que o dia do jogo
e a acção jogo lhe provoca?
Paulo Catarino – A minha ideia é que seja o ultimo. De facto está
muito difícil interiorizar, que algum dia vou ter de deixar de jogar
futebol.
Pensar nesse momento traz-me uma tristeza enorme e, algum medo
do que possa sentir, quando deixar de fazer algo que pratico desde os
6 anos com tanto amor e paixão.
FPO – Durante o período que trabalhou como treinador adjunto,
colmatava a falta da competição com o facto de continuar ligado ao
jogo no desempenho de outras funções? A adrenalina enquanto
treinador é diferente?
Paulo Catarino – É impossível a função de treinador compensar o
que se sente dentro de campo.
Mesmo nessa função, os melhores momentos eram, quando por
necessidade tinha de participar no treino para completar algum
exercício. A minha relação com os jogadores era, muito mais de
colega de equipa do que treinador adjunto e amava a relação que
criei com todos eles.
FPO – O golo mais especial da sua carreira foi com a camisola do
Vitória FC, pelo facto de ter sido com a camisola do clube do seu
coração. A melhor temporada ao serviço do Imortal de Albufeira, com
27 golos e o título de campeão da II Divisão B zona Sul. Números que
o levaram a concretizar um sonho. Que sonhos concretizou a seguir,
e quais são os que estão para vir?
Paulo Catarino – Quem me conhece sabe que eu tenho uma paixão
pelo FC Porto e pelo vitória de Setúbal, mas o sonho de criança era
jogar no Vitória, por tudo o que isso representava para mim, para a
minha mãe e para os meus irmãos e amigos. É o clube da cidade que
amo e, aquele golo no Estádio do Bonfim foi, o sonhado tantas vezes
em criança e adolescente e, até enquanto adulto. Felizmente realizei
o grande sonho de menino e isso deixa-me muito feliz.
Tive de trabalhar muito para o concretizar, fazer sacrifícios pessoais e
familiares, sair de perto das pessoas que amo e sobretudo tive de ter
um rendimento elevado nos clubes que representei. Felizmente a
época no imortal foi assombrosa, eu sentia-me imparável, tinha
colegas que jogavam para eu fazer golos, e graças a eles fiz muitos e
fantásticos.
Costumo dizer a brincar que se naquela época houvesse internet,
redes sociais e a visibilidade que dá o canal 11 tinha, ganho muito
dinheiro no futebol. Assim apenas fui feliz o que já é muito bom.
FPO – Setúbal é uma cidade de grandes homens do futebol. Se esses
grandes homens se unissem, com toda a sua competência,
conhecimentos e vivências futebolísticas poderiam ajudar o Vitória de
todos vós a reerguer-se. Estaria disponível para ajudar a mobiliza-los
e sensibiliza-los para um desafio desses?
Paulo Catarino - Estive sempre disponível para o Vitória enquanto
jogador e, dai ter trocado um contrato com o Getafe (Espanha), pelo sonho de
jogar no Vitória. Estarei disponível para o clube. Como dizes e bem
há, muita gente em Setúbal que deveria estar no clube. É apenas a
minha opinião, mas o clube hoje não tem referências para os jovens
nas equipas técnicas da formação e, deveria estar um homem da
casa, alguém que tivesse história para contar, e passar aos miúdos o
que é o Vitória e o que ele significa para a cidade e para o país.
Na estrutura do futebol profissional também. As direções que por cá
tem passado entendem, de forma diferente. Preferem os homens da
teoria aos homens do campo, e isso na minha opinião não tem dado
frutos e, o clube tem perdido aquela mística que foi cimentada por
tantos, e grandes homens do futebol português.
FPO – É conhecido por ser animador no balneário. Também o foi na
Reboleira no jogo das Estrelas? Alguma vez ao longo de tantos anos
de futebol levaram a mal as suas brincadeiras?
Paulo Catarino - Nunca vou mudar nada daquilo que sou, seja qual
for a posição que possa ocupar seja no futebol. Seja na vida, jamais
vou mudar a minha essência. É assim que sou feliz foi, assim que fui
criado pela melhor mãe do mundo, e sei que ela tinha orgulho na
pessoa que sou. Portanto nada do que os outros possam pensar
mudará o que sou.
Joguei em 34 clubes, tive centenas de colegas e em todos ganhei um
amigo para a vida. Claro que nesse jogo das estrelas não podia ser
diferente, posso dizer-te que levei fio dental e se tivesse feito golo ia
festejar como sempre, de preferência perto do Ronaldinho Gaúcho
(risos).
FPO – Participou em programas televisivos onde fez os
telespectadores rir à gargalhada, com grandes nomes do futebol de
várias gerações. Em um desses programas reparei, que quando do
painel fez parte Manuel Macau falou menos e sorriu mais. As histórias
do futebol antigo são fascinantes, porque o dia a dia do futebol era
outro. É tudo muito diferente actualmente, o comportamento dos
jogadores e as formas de estar? Os mais novos abordam-no e
pedem-lhe conselhos?
Paulo Catarino - Foram programas que me marcaram muito,
porque tinham tudo haver comigo e, o bar da sportv foi maravilhoso
e deu me a oportunidade de estar com o Carlos Manuel e o Miguel
Prates, que são pessoas que admiro. O sagrado balneário igual, com
o mister Toni e o António carraça no canal 11 tive, a felicidade de
conhecer o Cândido costa e sobretudo o Valdo, com quem criei uma
amizade maravilhosa e que me orgulha imenso.
O António Macau é uma figura única. Mais velho e com mais histórias
de vida, amo ouvir os mais velhos contarem as suas histórias do
futebol e, por isso às vezes prefiro ouvir e aprender com quem viveu
o futebol mais puro.
FPO – Quando defrontou o Pedro Catarino, seu filho, a concentração
foi máxima para ganhar ou dentro do campo no decorrer do jogo
caiu-lhe uma lágrima pela emoção de estarem os dois dentro do mesmo
retângulo de jogo? Nunca houve a possibilidade de vestirem a mesma
camisola e lutaram juntos por objetivos comuns?
Paulo Catarino - Naturalmente que nunca é igual a outro jogo. Para
eu ganhar ele tem que perder e ficar triste. Sendo ele a pessoa mais
importante da minha vida preferi, que ganhasse ele e ficasse feliz. Um
pai que se preze quer ver o filho feliz.
FPO – Consegue descrever o seu sentimento pelo futebol e por tudo
o que o desporto que move multidões lhe deu e continua a dar?
Paulo Catarino - Muito facilmente, o futebol para mim é amor,
paixão e alegria. É festa e, tudo o resto que possam querer fazer do
futebol não me interessa.
FPO – Quanto ao presente no caminho para o futuro. Quais são as
suas ambições?
Paulo Catarino - No futebol muito poucas. Não me identifico com
este futebol que chamam de moderno, porque é um futebol chato,
demasiado tecnológico, demasiado desumanizado e cada vez mais
aborrecido de se ver, devido a tanta paranóia táctica que estas novas
gerações de treinadores trouxeram ao treino e ao jogo. Na vida, a
minha ambição é ter muita saúde para desfrutar do meu filho e
sobretudo do meu netinho de 1 ano que é a luz dos meus olhos.
FPO – Como está a ser a experiência de marcar golos pela
solidariedade diariamente?
Paulo Catarino – Dificilmente encontraria um emprego que se identificasse
tanto comigo como o que tenho. Trabalhar neste gabinete de apoio
social é, um desafio enorme. Conviver todos os dias com os
problemas das pessoas e tentar ajuda-las é reconfortante.
Pessoas a quem a vida virou as costas e, outras que viraram as
costas á vida não podem ficar sem uma palavra de conforto, sem
uma atenção especial, porque são seres humanos que escolheram
caminhos errados mas que continuam a ser seres humanos. Todos
nós que trabalhamos ali damos o nosso melhor, para fazê-los sentir
que alguém se preocupa com eles.
Para concluir a nossa entrevista descreva
A sua mãe – Não foi quem me deu vida, mas foi quem me fez viver.
Foi é e sempre será a mulher da minha vida.
A sua esposa – A sorte continuou a cruzar-se comigo. Ser humano
maravilhoso que esteve sempre ao meu lado neste 30 anos de
relação, sem uma única discussão ou desentendimento. Fomos feitos
um para o outro.
O seu filho – O meu maior sonho. Muitos defeitos, muitas virtudes.
Quis seguir o caminho do pai mas sempre lhe disse, terei sempre
orgulho no jogador que fores mas, terei sempre mais orgulho no
homem que te tornares.
O número 25 – A data do meu nascimento. O meu apelido em
criança era o 25 de Abril, porque nasci na ponte 25 de Abril numa
ambulância e, foi o número que usei quando realizei o sonho de
criança de jogar no Vitória de Setúbal.
A Cidade de Setúbal – Paixão enorme pela minha cidade, uma
cidade linda cheia de encantos, com muito potencial por explorar.
Praias lindas, gajas boas e gastronomia maravilhosa. O nosso Vitória. Na 1ª ou na 6ª divisão será sempre a paixão dos setubalenses.
Os homens do futebol nascidos e criados em Setúbal que
muito deram e continuam a dar ao futebol – Realço dois. Mister
Quinito, uma referência como treinador e como ser humano
maravilhoso. E mister José Mourinho, referência mundial e
incomparável. Dois setubalenses que nos orgulham imenso.
Ricardo Formosinho – O melhor treinador que tive e o que mais
rendimento tirou de mim e entendeu a minha forma de
jogar e, o que mais soube rentabilizar a favor do coletivo as minhas
características. O que atualmente muitos treinadores ditos modernos
fazem nos treinos já ele fazia na temporada 1998/99.
A importância de todos os clubes que representou ao longo da sua
carreira - Todos estão no meu coração, todos foram importantes na
minha evolução enquanto jogador e homem. Em todos deixei alguém
de quem tenho saudades, seja um colega, um treinador, um
presidente, um roupeiro, um motorista ou um adepto.
Entrevista FPO – Foi um enorme prazer responder a todas estas
perguntas. Obrigado pelo interesse na minha carreira e na minha
vida. Também na comunicação social penso ter deixado um amigo
em todos os órgãos a quem dei entrevistas, porque sei que vocês
fizeram parte da minha carreira, na divulgação e visibilidade que dão
aos atletas.
Paulo Catarino – Serei sempre aquele menino do viso (Setúbal),
que foi adotado e criado pela melhor mãe do mundo e, que me deu a
oportunidade de lutar pelos sonhos que tinha.
Um amor inexplicável e, uma Gratidão incalculável pela minha mãe,
porque tudo o que conquistei na vida desportiva e familiar foi graças
a ela.
Orgulho imenso na minha história de vida.
Rui Cardoso
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