ENTREVISTA FPO - ALEXANDRE LAPA TREINADOR DE FUTEBOL - Futebol Português Online

23 abril 2018

ENTREVISTA FPO - ALEXANDRE LAPA TREINADOR DE FUTEBOL



Alexandre Lapa terminou recentemente a componente geral e específica do I nível do curso de treinador de futebol. Há alguns anos afastado do mundo da bola, o ex futebolista formado no Leixões SC, da escola dos “bebés do mar” onde o Sr. João Faneco foi um dos grandes mentores e impulsionadores. Na geração de Alexandre Lapa destacaram-se Carlos Fangueiro, Nené, Diogo Figueiredo “Didi”.
Terminou a prática em 2002/03, mas incentivado pelo amigo “Didi” regressou em 2016/17 no Marechal Gomes da Costa da II Divisão Distrital da AF Porto e aqui reacendeu a sua curiosidade e ambição de se tornar treinador.
Na presente época inicia a função como treinador adjunto no MGC e ainda no decorrer de 2017/18 regressa ao clube do mar, o clube do seu coração para coadjuvar Vítor Fróis no escalão de Sub 15.
Na primeira pessoa, o mister Alexandre Lapa partilha a sua experiência e paixão futebolística na entrevista FPO.
Gratos pela sua participação.

Futebol Português Online – Que mais-valias lhe trouxe o curso de treinador de futebol? O que é que não faz hoje a nível metódico que antes fazia e achava ser importante no trabalho com a sua equipa?

Alexandre Lapa – O curso de treinador foi importante como início de um longo processo, onde adquiri um conhecimento actual de algumas metodologias que devem ser implementadas.
A parte mental de um atleta foi um tema que no passado, não era muito falado e muito trabalhado no futebol por pessoas específicas dessa área. Na actualidade, é talvez a parte fundamental para o sucesso de um desportista, de um treinador e de um clube. Trabalhar a mente é como trabalhar finalização.
Se adoptasse metodologias que aprendi ao longo da minha carreira como jogador, por exemplo as famosas cargas físicas no início das épocas, como correr na praia, correr nas bancadas, seria chamado de louco e antiquado.
Por isso, os métodos de treino devem de ser os mais reais com um jogo de futebol.

FPO – Cresceu para o futebol no Leixões. Agora do lado mais técnico como tem sido a experiência de ajudar jovens futebolistas no seu crescimento?

AL – Em primeiro lugar tenho que agradecer à Direcção do Leixões SC, o facto de ter aberto as portas a um ex atleta, para poder concluir a última etapa do curso.
Entrei no Leixões na época 1989/90 (escalão Infantil) e deixei o clube no final da época 96/97 (Sénior) e realmente cresci aqui, cresci como jogador, como adolescente. Aprendi os valores e a Mística do clube, que por muita qualidade técnica que um jogador possa ter, no Leixões tens que te lembrar das raízes, tens que te lembrar que homens de Matosinhos, homens do mar, ajudaram a construir 111 anos de história. Com isto digo que a minha primeira parte como técnico é relembrar esses mesmos valores e “vincular” os atletas ao clube, porque faz parte do seu crescimento.
Mas o futebol de formação também é aquisição de normas e poderes transmitir as componentes técnico - táticas para quem começa nos escalões que já entram em competição, é gratificante.
Acompanhares a evolução ao longo da época dos atletas, da equipa e sentires que correspondem às ideias transmitidas, tem sido uma experiência única, mesmo nos dias em que sentes que nada flui.
Cada dia que passo com estes jovens e poder ajudá-los a serem melhores jogadores, tem sido fantástico. 

FPO – Regressar ao Leixões passados todos estes anos dá-lhe que tipo de responsabilidade? Encontrou muita coisa diferente do seu tempo?

AL – Tenho uma responsabilidade acrescida por ter sido um ex atleta e, é normal que sinta o clube de uma forma especial e quem passou por esta casa entende isso.
Esta Instituição ao longo dos anos tem sentido as dificuldades normais de um clube, mas nunca deixou de ser uma referência na formação, onde potencia as qualidades dos seus talentos e continua a ser responsável pela inclusão de muitos atletas ao mais alto patamar do futebol português. Era assim naquele tempo e nada mudou nesse sentido. No entanto, a grande diferença para os dias de hoje e todos falamos nisso, é o famoso pelado “maracanazinho”.
Era o estádio da formação, mesmo ao lado do estádio do Mar, onde nasceram muito dos famosos “bebés”. Hoje em dia, inicias a formação em sintético mas em campos dispersos. No entanto esta Direcção e é publico, que está a trabalhar no sentido de obter novamente um único campo para a formação.

FPO – Antes deste regresso a casa, já estava no activo, no Marechal Gomes da Costa da II Divisão distrital. Dê a conhecer um pouco do MGC aos nossos leitores.

AL– O MGC é um clube que tem características e uma essência muito própria (sem sede, sem campo, nem estrutura organizativa, em que órgãos sociais são ex jogadores), mas que no fundo representa o que é puro e saudável no desporto, tornando apaixonante tudo em que toca, deixando quem lá passa( seja como jogador, como treinador, como patrocinador, como sócio, adepto, etc…) ligado para sempre.
No MCG, os jogos ganham-se na luta, raça, esforço e atitude de cada um. Não interessa o estatuto social, a compleição física, ou se existem centenas de pessoas na bancada, assim como se temos o ultimo modelo de chuteiras, ou o equipamento da marca mais cara. Tudo se resume a trabalho e luta.
A tradição é que os mais velhos ( ex capitães como Barros, Xico, Flores, Xé e Rodri), ajudam, incentivam, protestam “dão na cabeça”, aos mais novos, com sangue, suor e lágrimas dentro e fora do campo.
É um clube de futebol constituído por homens com H “GRANDE” que são amigos para a vida e que têm de ter categoria com toda a gente que se cruzam. Caso contrário, a porta do clube está aberta.
O MGC é um clube respeitado em qualquer campo que passa porque após o apito final do árbitro, o adversário é um colega/amigo, que temos que ter o desportivismo, independentemente do resultado, de os cumprimentar, criar laços e camaradagem com a estrutura e adeptos. Os valores mais nobres se mantêm desde a fundação e são passados de geração em geração.

Isto é o Clube Marechal Gomes da Costa.

FPO – Foi a experiência no MGC que lhe despertou a vontade de se tornar treinador. Com que tipo de dificuldades se deparou neste seu início numa equipa da II Divisão Distrital AF Porto, visto que era um treinador adjunto bastante interventivo?

AL– Quem esteve inserido no futebol muitos anos, potencia intrinsecamente aquele “bichinho” em ser treinador e foi no decorrer da época 2016/17, como atleta do MGC, que com naturalidade dentro e fora do campo já trocava impressões com o Mister Nuno Mendes. Posto isto, no término dessa época o Mister fez-me o convite para fazer parte da sua equipa técnica e programar a época seguinte. (O meu sincero obrigado a si, Mister Nuno).
No inicio da época a decorrer e sempre em consonância com o Mister que delegou para mim o trabalho de campo, a primeira dificuldade/objectivo, foi motivar ao máximo os jogadores que para mim são uns guerreiros, porque não é fácil sendo eles maioritariamente atletas trabalhadores, terem vontade em deixar as suas famílias, para praticarem futebol em contexto amador.
A segunda dificuldade/objectivo, foi transmitir aos jogadores que apesar de ser um campeonato distrital, devemos e podemos ter um modelo de jogo que possa desmontar a organização da equipa adversária e que o próprio atleta se sinta motivado e realizado com o seu futebol, quer individual, quer com o trabalho da equipa.
Desde já agradeço a todos os atletas do MCG pela disponibilidade que me transmitiram em cada exercício de treino e em cada minuto de jogo.
Deixo a minha homenagem a todos os atletas e treinadores que fazem parte do futebol distrital e continuam com aquela vontade em valorizar um campeonato muito característico.

FPO –É um consumidor de informação sobre treino e jogo. Nos contextos onde esteve inserido conseguiu implementar as suas ideias em consonância com a equipa técnica?

AL – Felizmente que nos anos que estive “ausente”, consegui sempre actualizar-me com a evolução do futebol, com as diferentes metodologias criadas por treinadores de referência e com treinadores desconhecidos, porque o futebol é universal e todos têm sempre uma ideia que devemos assimilar e que também podemos aperfeiçoar e aplicá-la no contexto em que estamos inseridos.
Com a informação recolhida ao longo desse tempo, trouxe-me um “Know how” que me permitiu, quer onde estive e estou inserido como parte de uma equipa técnica, falar sobre as minhas ideias e com a aceitação dos mesmos, algumas são implementadas. Embora e sendo correcto com todos, um treinador adjunto sente sempre que pode dar mais qualquer coisa, por isso é que depois assumem como prioridade em seguir o seu próprio trajecto.
Mas desde já faço uma referência que, quer o Mister Nuno (MGC) quer o Mister Vítor (Leixões SC), sempre foram correctos comigo e permitiram sempre que abordasse qualquer ideia, fosse ela a mais “iluminada”.

FPO – Que pretende para si num futuro próximo. Quais são as suas ambições?

AL – O treinador vive do treino e eu não fujo à regra. Veres a evolução no dia-a-dia dos teus jogadores, da tua equipa, terminando com os 90 minutos no fim-de-semana, onde analisas se os processos foram assimilados, onde analisas se as tuas ideias para a prática do teu futebol são correctas e eficazes, é a minha ambição e penso que será de qualquer treinador, seja ele jovem ou experiente.
Poder transmitir a cada jogador que além da componente táctica, o seu individualismo (magia), faz parte e devemos potenciar as suas valências em prol da equipa.
Sei que tenho um longo caminho pela frente, mas só posso evoluir como pessoa e como treinador no dia-a-dia. Apesar dos conhecimentos que possa ter sobre o futebol, não posso ter medo de errar porque faz parte, não posso ter medo do confronto porque também faz parte. Por isso e com os pés bem assentes na terra, mas com uma ambição tremenda e uma confiança total nas minhas capacidades, o meu “momento” como treinador vai surgir.

Ao Primeiro Toque – Para terminar a entrevista o nosso entrevistado pode qualificar ou descrever com uma ou mais palavras as palavras soltas descritas abaixo.

Leixões SC – “Desde o berço”. “Até ao último peixeiro”.

Futebol Distrital – Peculiar.

Futebol de Formação – Aquisição de normas.

O futebol e a importância do futebol na sua vida – 23Horas e 59 minutos. “Estou casado com o futebol e tenho um caso com a minha mulher”.

Nuno E. Mendes – Respeito e Amizade.

Vítor Fróis – Exigente e Competente.

Sr. João Faneco – Um símbolo e mestre do futebol de formação do Leixões SC.

Alexandre Lapa – Ambição com profissionalismo.

Entrevista FPO – Profissional na abordagem. FPO, conhecedor exímio das ligas não profissionais.



Rui Cardoso