Alexandre Lapa terminou
recentemente a componente geral e específica do I nível do curso de treinador
de futebol. Há alguns anos afastado do mundo da bola, o ex futebolista formado
no Leixões SC, da escola dos “bebés do mar” onde o Sr. João Faneco foi um dos
grandes mentores e impulsionadores. Na geração de Alexandre Lapa destacaram-se
Carlos Fangueiro, Nené, Diogo Figueiredo “Didi”.
Terminou a prática em
2002/03, mas incentivado pelo amigo “Didi” regressou em 2016/17 no Marechal
Gomes da Costa da II Divisão Distrital da AF Porto e aqui reacendeu a sua
curiosidade e ambição de se tornar treinador.
Na presente época inicia a
função como treinador adjunto no MGC e ainda no decorrer de 2017/18 regressa ao
clube do mar, o clube do seu coração para coadjuvar Vítor Fróis no escalão de
Sub 15.
Na primeira pessoa, o mister Alexandre Lapa partilha a
sua experiência e paixão futebolística na entrevista FPO.
Gratos pela sua participação.
Futebol
Português Online – Que mais-valias lhe trouxe o curso de
treinador de futebol? O que é que não faz hoje a nível metódico que antes fazia
e achava ser importante no trabalho com a sua equipa?
Alexandre
Lapa – O curso de treinador foi importante como início de um
longo processo, onde adquiri um conhecimento actual de algumas metodologias que
devem ser implementadas.
A parte mental de um atleta
foi um tema que no passado, não era muito falado e muito trabalhado no futebol
por pessoas específicas dessa área. Na actualidade, é talvez a parte
fundamental para o sucesso de um desportista, de um treinador e de um clube. Trabalhar
a mente é como trabalhar finalização.
Se adoptasse metodologias
que aprendi ao longo da minha carreira como jogador, por exemplo as famosas
cargas físicas no início das épocas, como correr na praia, correr nas bancadas,
seria chamado de louco e antiquado.
Por isso, os métodos de
treino devem de ser os mais reais com um jogo de futebol.
FPO –
Cresceu
para o futebol no Leixões. Agora do lado mais técnico como tem sido a
experiência de ajudar jovens futebolistas no seu crescimento?
AL
– Em
primeiro lugar tenho que agradecer à Direcção do Leixões SC, o facto de ter
aberto as portas a um ex atleta, para poder concluir a última etapa do curso.
Entrei no Leixões na época
1989/90 (escalão Infantil) e deixei
o clube no final da época 96/97 (Sénior)
e realmente cresci aqui, cresci como jogador, como adolescente. Aprendi os
valores e a Mística do clube, que por muita qualidade técnica que um jogador
possa ter, no Leixões tens que te lembrar das raízes, tens que te lembrar que
homens de Matosinhos, homens do mar, ajudaram a construir 111 anos de história.
Com isto digo que a minha primeira parte como técnico é relembrar esses mesmos
valores e “vincular” os atletas ao clube, porque faz parte do seu crescimento.
Mas o futebol de formação
também é aquisição de normas e poderes transmitir as componentes técnico -
táticas para quem começa nos escalões que já entram em competição, é gratificante.
Acompanhares a evolução ao
longo da época dos atletas, da equipa e sentires que correspondem às ideias
transmitidas, tem sido uma experiência única, mesmo nos dias em que sentes que
nada flui.
Cada dia que passo com estes
jovens e poder ajudá-los a serem melhores jogadores, tem sido fantástico.
FPO
– Regressar
ao Leixões passados todos estes anos dá-lhe que tipo de responsabilidade?
Encontrou muita coisa diferente do seu tempo?
AL
– Tenho
uma responsabilidade acrescida por ter sido um ex atleta e, é normal que sinta
o clube de uma forma especial e quem passou por esta casa entende isso.
Esta Instituição ao longo
dos anos tem sentido as dificuldades normais de um clube, mas nunca deixou de
ser uma referência na formação, onde potencia as qualidades dos seus talentos e
continua a ser responsável pela inclusão de muitos atletas ao mais alto patamar
do futebol português. Era assim naquele tempo e nada mudou nesse sentido. No
entanto, a grande diferença para os dias de hoje e todos falamos nisso, é o
famoso pelado “maracanazinho”.
Era o estádio da formação,
mesmo ao lado do estádio do Mar, onde nasceram muito dos famosos “bebés”. Hoje
em dia, inicias a formação em sintético mas em campos dispersos. No entanto
esta Direcção e é publico, que está a trabalhar no sentido de obter novamente
um único campo para a formação.
FPO
–
Antes deste regresso a casa, já estava no activo, no Marechal Gomes da Costa da
II Divisão distrital. Dê a conhecer um pouco do MGC aos nossos leitores.
AL–
O
MGC é um clube que tem características e uma essência muito própria (sem sede, sem campo, nem estrutura
organizativa, em que órgãos sociais são ex jogadores), mas que no fundo
representa o que é puro e saudável no desporto, tornando apaixonante tudo em
que toca, deixando quem lá passa( seja como jogador, como treinador, como
patrocinador, como sócio, adepto, etc…) ligado para sempre.
No MCG, os jogos ganham-se
na luta, raça, esforço e atitude de cada um. Não interessa o estatuto social, a
compleição física, ou se existem centenas de pessoas na bancada, assim como se
temos o ultimo modelo de chuteiras, ou o equipamento da marca mais cara. Tudo
se resume a trabalho e luta.
A tradição é que os mais
velhos ( ex capitães como Barros, Xico,
Flores, Xé e Rodri), ajudam, incentivam, protestam “dão na cabeça”, aos
mais novos, com sangue, suor e lágrimas dentro e fora do campo.
É um clube de futebol constituído
por homens com H “GRANDE” que são
amigos para a vida e que têm de ter categoria com toda a gente que se cruzam.
Caso contrário, a porta do clube está aberta.
O MGC é um clube respeitado
em qualquer campo que passa porque após o apito final do árbitro, o adversário
é um colega/amigo, que temos que ter o desportivismo, independentemente do
resultado, de os cumprimentar, criar laços e camaradagem com a estrutura e
adeptos. Os valores mais nobres se mantêm desde a fundação e são passados de
geração em geração.
Isto
é o Clube Marechal Gomes da Costa.
FPO
– Foi
a experiência no MGC que lhe despertou a vontade de se tornar treinador. Com
que tipo de dificuldades se deparou neste seu início numa equipa da II Divisão
Distrital AF Porto, visto que era um treinador adjunto bastante interventivo?
AL–
Quem
esteve inserido no futebol muitos anos, potencia intrinsecamente aquele
“bichinho” em ser treinador e foi no decorrer da época 2016/17, como atleta do
MGC, que com naturalidade dentro e fora do campo já trocava impressões com o
Mister Nuno Mendes. Posto isto, no término dessa época o Mister fez-me o
convite para fazer parte da sua equipa técnica e programar a época seguinte. (O
meu sincero obrigado a si, Mister Nuno).
No inicio da época a
decorrer e sempre em consonância com o Mister que delegou para mim o trabalho
de campo, a primeira dificuldade/objectivo, foi motivar ao
máximo os jogadores que para mim são uns guerreiros, porque não é fácil sendo eles
maioritariamente atletas trabalhadores, terem vontade em deixar as suas
famílias, para praticarem futebol em contexto amador.
A
segunda dificuldade/objectivo, foi transmitir aos
jogadores que apesar de ser um campeonato distrital, devemos e podemos ter um
modelo de jogo que possa desmontar a organização da equipa adversária e que o
próprio atleta se sinta motivado e realizado com o seu futebol, quer
individual, quer com o trabalho da equipa.
Desde já agradeço a todos os
atletas do MCG pela disponibilidade que me transmitiram em cada exercício de
treino e em cada minuto de jogo.
Deixo a minha homenagem a
todos os atletas e treinadores que fazem parte do futebol distrital e continuam
com aquela vontade em valorizar um campeonato muito característico.
FPO
–É
um consumidor de informação sobre treino e jogo. Nos contextos onde esteve
inserido conseguiu implementar as suas ideias em consonância com a equipa
técnica?
AL
– Felizmente
que nos anos que estive “ausente”, consegui sempre actualizar-me com a evolução
do futebol, com as diferentes metodologias criadas por treinadores de
referência e com treinadores desconhecidos, porque o futebol é universal e
todos têm sempre uma ideia que devemos assimilar e que também podemos
aperfeiçoar e aplicá-la no contexto em que estamos inseridos.
Com a informação recolhida
ao longo desse tempo, trouxe-me um “Know
how” que me permitiu, quer onde estive e estou inserido como parte de uma
equipa técnica, falar sobre as minhas ideias e com a aceitação dos mesmos,
algumas são implementadas. Embora e sendo correcto com todos, um treinador
adjunto sente sempre que pode dar mais qualquer coisa, por isso é que depois
assumem como prioridade em seguir o seu próprio trajecto.
Mas desde já faço uma
referência que, quer o Mister Nuno (MGC)
quer o Mister Vítor (Leixões SC),
sempre foram correctos comigo e permitiram sempre que abordasse qualquer ideia,
fosse ela a mais “iluminada”.
FPO
– Que
pretende para si num futuro próximo. Quais são as suas ambições?
AL
– O
treinador vive do treino e eu não fujo à regra. Veres a evolução no dia-a-dia
dos teus jogadores, da tua equipa, terminando com os 90 minutos no
fim-de-semana, onde analisas se os processos foram assimilados, onde analisas
se as tuas ideias para a prática do teu futebol são correctas e eficazes, é a
minha ambição e penso que será de qualquer treinador, seja ele jovem ou
experiente.
Poder transmitir a cada
jogador que além da componente táctica, o seu individualismo (magia), faz parte e devemos potenciar
as suas valências em prol da equipa.
Sei que tenho um longo
caminho pela frente, mas só posso evoluir como pessoa e como treinador no
dia-a-dia. Apesar dos conhecimentos que possa ter sobre o futebol, não posso
ter medo de errar porque faz parte, não posso ter medo do confronto porque
também faz parte. Por isso e com os pés bem assentes na terra, mas com uma
ambição tremenda e uma confiança total nas minhas capacidades, o meu “momento”
como treinador vai surgir.
Ao
Primeiro Toque – Para terminar a entrevista o nosso
entrevistado pode qualificar ou descrever com uma ou mais palavras as palavras
soltas descritas abaixo.
Leixões
SC – “Desde o berço”. “Até ao último peixeiro”.
Futebol
Distrital – Peculiar.
Futebol
de Formação – Aquisição de normas.
O
futebol e a importância do futebol na sua vida – 23Horas
e 59 minutos. “Estou casado com o futebol e tenho um caso com a minha mulher”.
Nuno
E. Mendes – Respeito e Amizade.
Vítor
Fróis – Exigente e Competente.
Sr.
João Faneco – Um símbolo e mestre do futebol de formação do
Leixões SC.
Alexandre
Lapa – Ambição com profissionalismo.
Entrevista
FPO – Profissional na abordagem. FPO, conhecedor exímio das
ligas não profissionais.
Rui Cardoso